Crítica | 7 Desejos (Plano Crítico)
- Fernando Annunziata
- Mar 17, 2021
- 3 min read

1/5
Wish Upon é mais um projeto que entra pra lista dos que conseguem errar em todos os aspectos. Um roteiro superficial, com uma trama arrastada e uma direção que parece adolescentes brincando com a câmera, a obra não se permite cativar em nenhum momento. Clare (Joey King) vive uma vida de adolescente comum. Como presente de aniversário antecipado, a garota recebe de seu pai uma misteriosa caixa chinesa que promete dar 7 desejos. O objeto, porém, esconde forças malignas e cada desejo tem um preço mortal a ser pago.
O roteiro quis introduzir um clichê adolescente na protagonista, porém peca excessivamente neste ponto. Claire é retratada da maneira mais burra possível. Ela enxerga os acontecimentos horríveis e só consegue associar as tragédias à caixa no terceiro ato. É claro que o adolescente burro é típico do terror clichê, mas em Wish Upon essa tradição poderia ser desenvolvida em outros elementos, de modo que a falta de inteligência da protagonista não se fizesse exagerada. Por exemplo, o amor inalcançável de Claire por Paul (Mitchell Slaggert) só é adicionado para servir como base de um novo desejo (e novas mortes). Esse romance seria um pouco mais aceitável se o roteiro se esforçasse para desenvolver esse artifício, mesmo que utilizasse do clichê para tanto.
Nem o clichê salva os personagens secundários. A relação das amigas de Claire é tão superficial que não sentimos qualquer tipo de empatia por elas, mesmo quando estão em perigo ou quando a obra tenta colocar uma dramaticidade em volta das garotas. O pai da protagonista também não se salva, tendo seu papel escondido atrás de um roteiro mal escrito. Por exemplo, a função dele como catador de lixo não é sequer aproveitada: é só mais um protótipo da narrativa para servir como base de um dos desejos. E o pior de tudo: a mãe de Claire, que cometeu suicídio no começo do filme, não é minimamente aproveitada. Ela aparece no início e depois só vem a ser citada no final, sem acrescentar em nada no projeto.
E nem para as atuações passarem despercebidas. Os atores aqui estão parecendo um robô lendo o texto, recebendo o cachê e indo pra casa. Acredito que nem eles acreditavam no potencial da obra e, assim, não quiseram se esforçar. Isso porque sabemos que Joey King é uma ótima atriz (destaque para Christine, em Invocação do Mal). No entanto, em Wish Upon ela tem potencialmente a sua pior atuação.
As mortes são escritas e tratadas da maneira mais desleixada possível. Se a sinopse descreve uma morte a cada desejo, então as fatalidades são elementos importantes para a película. No entanto, parece que estamos assistindo a mais uma cena comum do clichê, sem qualquer tipo de suspense ou cerimônia construída em volta. Além disso, os acidentes são previsíveis e não utilizam qualquer recurso cinematográfico avançado. A maior vergonha é a nítida comemoração dos produtores em acharem que estão arrasando por colocarem um certo gore nas cenas de morte. Entretanto, é impossível não notar o molho de tomate e o CGI feito no editor de vídeo mais barato da internet. É impressionante que esse filme seja de 2017. Se me contassem que é dos anos 80, eu acreditaria.
Também não dá pra desculpar a péssima utilização da câmera. Elemento que passa tão despercebido em obras medianas, aqui é algo que incomoda para além do suportável. Os enquadramentos deixam qualquer um perdido, mesmo que incrivelmente nenhuma cena envolva ação ou movimentos acelerados. Bastava o mínimo de competência para fazer com que o espectador acompanhasse os movimentos dos personagens. E, como cereja do bolo, o filme força uma lenda chinesa que não faz sentido algum. Uma história tão mal escrita que se assemelha facilmente a uma fanfic, somado a um demônio que não tem nenhum aspecto desenvolvido (só pertence à caixa, e é isso), nos faz querer nem terminar de assistir ao filme.
Wish Upon é um dos maiores erros cinematográficos já existentes. Incrivelmente nada se salva. Vamos todos dar as mãos e fazer dois pedidos: Barbara Marshall, não roteirize mais nada. John R. Leonetti, não volte como diretor.
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